Construção civil em queda é a maior frustração

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Expectativa era de desaceleração, mas não de frustração para o segmento

A queda de 2,5% no PIB da construção no quarto trimestre do ano passado, na comparação com o terceiro, foi uma das grandes frustrações das Contas Nacionais divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Depois de sair do fundo do poço no terceiro trimestre, quando surpreendeu com alta de 1,6%, esperava-se alguma desaceleração, mas não uma queda, e ainda mais dessa magnitude. No ano, o setor cresceu 1,6%, primeira taxa positiva desde 2013. Encerrado 2019, a construção seguiu em torno de 30% abaixo do pico alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) e uma das maiores especialistas no setor, afirma que o resultado do quarto trimestre surpreendeu. Ainda não há uma explicação exata para o número, mas parte dela pode estar na queda de 1% da produção física de insumos da construção civil no período, diz. “Estamos tentando entender os motivos da maior fraqueza da indústria de material”. O Ibre-FGV estimava crescimento 0,6% no quarto trimestre sobre o terceiro e de 2,6% no ano.

A economista pondera que outros indicadores da construção têm vindo bem, como o emprego formal, preparação de terrenos, serviços de engenharia e o índice de situação atual da sondagem mensal da FGV, que mede o ânimo dos empresários com a conjuntura. “O resultado divulgado frustrou, mas não significa que mudou o sinal do setor para negativo”, afirma. O ano de 2019 foi de virada e a perspectiva para o PIB é de crescimento de 3%, diz.

Marco Ross, economista da XP Investimentos, observa que não há muitos dados que permitam analisar a forte queda de 2,5% no PIB da construção, mas destaca que a recuperação do segmento imobiliário – que vinha puxando o resultado do setor – tem sido heterogênea. “Uma hipótese a ser testada é que pode ter havido uma desaceleração da construção em São Paulo enquanto outras regiões não compensaram essa queda. Isso pode ter contribuído negativamente para o índice geral”.

Para Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, sindicato da construção no Estado, a frustração se deve a três fatores. “Os esperados investimentos em infraestrutura não se concretizaram, as contratações do Minha Casa, Minha Vida diminuíram, e registraram-se poucas novas obras imobiliárias, à exceção de São Paulo e algumas outras capitais.” A entidade esperava crescimento de 2% no PIB do setor em 2019.

O setor de construção civil é chave para uma aceleração do crescimento, por ser grande empregador, o que gera consumo e seu desempenho no quarto trimestre acende uma luz amarela em relação à velocidade de retomada da construção civil, diz Lucas Nóbrega, economista do banco Santander.

Para Ana Castelo, do Ibre-FGV, o setor imobiliário já tem uma expansão quase garantida em 2020 por causa das obras já contratadas e, nesse sentido, as incertezas com a economia brasileira relacionadas ao coronavírus e ao andamento das reformas teriam impacto mais para a frente. No entanto, um desempenho mais robusto continua a depender de uma recuperação do segmento imobiliário para além da região Sudeste, da retomada da infraestrutura e da definição dos planos do governo federal para a habitação. “Há grande dúvidas sobre a continuidade do Minha Casa, Minha Vida. E renda e emprego também precisam crescer para dar fôlego ao setor.” A demanda, diz, continua a ser o principal entrave para a construção.

Fonte: Valor Econômico