A liberação prevista de aproximadamente R$ 40 bilhões das contas inativas do FGTS é vista como um sinal de alerta pelas empresas de construção civil voltadas para a população de renda média e baixa, onde os empreendimentos são financiados com recursos do fundo. Segundo os executivos das principais incorporadoras dessa área, o FGTS chegou ao seu limite e há risco real de haver escassez de crédito caso o fundo seja utilizado em novas iniciativas diferentes do seu objetivo original – que são os investimentos em habitação e infraestrutura.
“O cenário não é confortável. Os saques de R$ 40 bilhões fazem muita diferença na liquidez do fundo. Apesar de o total de ativos do FGTS somar mais de R$ 500 bilhões, apenas cerca de R$ 100 bilhões são ativos líquidos, de fato”, apontou o presidente da construtora Tenda, Rodrigo Osmo, durante fórum realizado pela corretora Bradesco BBI. “É um cenário que requer cuidado. O cobertor ficou muito curto. Se houver novas ações para cima do FGTS, começará a preocupar bastante”, completou.
Na mesma linha, o copresidente da MRV Engenharia, Rafael Menin, frisou que o setor de habitação popular é dependente dos recursos do FGTS, com taxas de juros menores do que as praticadas no mercado. Por isso, disse, as construtoras têm mantido uma agenda de reuniões frequentes com representantes do governo federal com o objetivo de sensibilizá-los sobre a importância de não destinar os recursos do fundo para outros fins, como a iniciativa recente de liberar o dinheiro das contas inativas visando a reaquecer a economia no curto prazo. “O governo tem boa intenção sobre o FGTS, mas sempre existem tentações de curto prazo”, ponderou Menin. “Esperamos que o governo continue dando tratamento adequado ao FGTS”, complementou.
Questionado sobre as opções de financiamento imobiliário no Minha Casa Minha Vida, Menin disse esperar uma volta lenta do Banco do Brasil a esse mercado. Ele analisou que o banco estatal teria observado um aumento da inadimplência nessa carteira após a agressividade na concessão de crédito nos últimos anos, estando mais defensivo agora. “Vamos conviver em 2017 com um quase monopólio da Caixa. Com o passar do tempo, esperamos que o Banco do Brasil será mais ativo no setor”, avaliou.