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Construção civil ultrapassa 3 milhões de empregos formais, mas sofre com retração de 63% no crédito à produção

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apresentou nesta segunda-feira (25) um raio-x sobre o desempenho da construção civil no 2º trimestre de 2025. A análise, conduzida pela economista-chefe da entidade, Ieda Vasconcelos, revelou um paradoxo no setor: enquanto o número de empregos formais ultrapassou a marca histórica de 3 milhões pela primeira vez desde 2014, o crédito à produção sofreu uma retração expressiva, acendendo o alerta para o médio prazo.

Um dos pontos mais críticos do período foi a forte retração no crédito voltado à produção no setor. Nos primeiros cinco meses de 2025, foram financiadas apenas 24.115 unidades com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), uma redução de 62,9% em relação ao mesmo período de 2024. Em valores, a queda chegou a 54,1%, passando de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões.

A economista da CBIC atribui esse cenário a um descompasso entre a alta da taxa Selic — mantida em 15%, o maior nível em duas décadas — e a queda sistemática na captação líquida da caderneta de poupança, que perdeu R$ 38,4 bilhões só no primeiro semestre. “O custo do crédito está elevado tanto para o comprador quanto para o construtor. Os bancos têm priorizado o financiamento à aquisição, em detrimento da produção”, explica Ieda.

“A construção civil segue gerando empregos, movimentando a economia e contribuindo para o crescimento do país, mesmo diante de um cenário de juros altos e crédito restrito. Os dados mostram a força e a resiliência do setor, mas também reforçam a urgência de medidas que garantam um ambiente mais favorável à produção e ao investimento”, afirma Renato Correia, presidente da CBIC.

Emprego em alta, puxado por jovens e qualificados

A construção civil segue como uma das principais locomotivas da geração de empregos no país. Entre janeiro e maio de 2025, o setor criou 149,2 mil novas vagas formais — número inferior ao registrado em 2024, mas superior ao de 2023. Os três segmentos da atividade — construção de edifícios, infraestrutura e serviços especializados — registraram saldo positivo no período.

Os dados mostram que 47,7% das vagas criadas foram ocupadas por jovens entre 18 e 29 anos, e 62,2% dos admitidos têm ensino médio completo, o que desmonta dois estigmas recorrentes sobre a mão de obra do setor.

O salário médio de admissão, de R$ 2.436, é o maior entre todos os setores pesquisados, incluindo serviços, indústria e até administração pública.

Atividade ainda aquecida, mas confiança abalada

O nível de atividade da construção civil, medido pela Sondagem da Indústria da Construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a CBIC, atingiu 48,8 pontos em junho de 2025 — o melhor desempenho desde novembro de 2024. Embora o índice ainda esteja abaixo da linha dos 50 pontos, que separa expansão de retração, o resultado representa uma sinalização positiva: mostra que o setor segue em desaceleração, mas com menor intensidade do que nos meses anteriores.

A sondagem capta a percepção de empresários do setor, que respondem sobre o ritmo de suas atividades, utilização da capacidade instalada, contratações e expectativas. Essas respostas funcionam como um termômetro da realidade vivida nos canteiros de obras, refletindo as decisões práticas de quem está na linha de frente da produção.

“O leve avanço registrado em junho sugere uma possível tendência de recuperação gradual, impulsionada por lançamentos anteriores e pela manutenção da atividade em segmentos como os serviços especializados e a construção de edifícios. No entanto, o cenário ainda inspira cautela, principalmente diante da persistência dos juros elevados e da menor oferta de crédito para o setor”, comenta o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

A utilização da capacidade operacional manteve-se elevada, com média de 67% no semestre, e as vendas de cimento cresceram 3,5% em relação ao ano anterior, impulsionadas por pequenas reformas e obras residenciais.

No entanto, o Índice de Confiança do Empresário da Construção (que integra a Sondagem) recuou para 47,1 pontos em julho, menor valor do ano. A percepção negativa está relacionada à alta dos juros, à Inflação acumulada em 12 meses (5,35%) e às incertezas macroeconômicas, como a política fiscal e a nova tarifação de produtos brasileiros nos Estados Unidos. O Índice mede o grau de otimismo ou pessimismo dos empresários do setor da construção civil em relação ao ambiente atual e às perspectivas para os próximos meses.

Perspectivas e alerta para o futuro

A CBIC manteve sua projeção de crescimento para 2025 em 2,3%, pela segunda vez consecutiva. Segundo Ieda, a estimativa carrega “um leve otimismo”, sustentado pela inércia de lançamentos anteriores, que ainda geram atividade e emprego no presente.

Entretanto, as expectativas para novos empreendimentos e serviços caíram para o segundo menor patamar do ano. “Estamos vivenciando o reflexo do que foi lançado nos últimos dois anos. Se o atual ambiente de juros elevados persistir, há risco de desaceleração mais acentuada a partir de 2026”, alertou a economista.

“A construção civil é um setor intensivo em mão de obra, com impacto direto na renda, na geração de empregos e no PIB. Limitar seu crescimento, seja pela falta de crédito ou pelo custo elevado do financiamento, é comprometer o desenvolvimento do país”, concluiu Correia.

Por Agência Cbic

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