Caixa vai focar no consignado e planeja lançar cartão em abril

Agência da Caixa Econômica Federal no centro do Rio de Janeiro. Foto: REUTERS/Pilar Olivares/File

A Caixa vai entrar no segmento de cartão consignado no próximo mês, disse o presidente do banco, Pedro Guimarães, a jornalistas. De acordo com ele, a Caixa é um banco social e, como tal, deve ter foco nas linhas com taxas mais baixas, caso do consignado.

“Como banco social, focado em menor renda, a gente vai focar no consignado mais do que já focou”, afirmou.

O imobiliário vai continuar sendo prioritário, especialmente nas linhas mais baratas. O banco seguirá fazendo todo o processo do Minha Casa Minha Vida (MCMV). “A Caixa é instrumento de política de Estado. Com 26 mil pontos de venda, é quem mais pode focar em MCMV”, ressaltou.

Guimarães afirmou que, como o banco não tem problemas de capital, o crédito imobiliário será retomado e o patamar atual de taxas será mantido.

No crédito a pessoa jurídica, o executivo reiterou que o alvo são as pequenas empresas. “Vamos focar na padaria de seu Joaquim, não em empresas grandes com acesso a mercado de capitais, interno e externo”, disse.

Isso não impede, segundo ele, que a Caixa estruture operações para clientes corporativos no mercado de capitais. Isso vale especialmente para a carteira de infraestrutura do banco.

Guimarães afirmou ainda que a Caixa perde R$ 1 bilhão por ano em receita por não atuar no mercado de credenciamento de cartões. “É inadmissível que a Caixa não tenha adquirente”, disse.

O executivo afirmou que o serviço de adquirência do banco terá 21 mil pontos exclusivos, nas lotéricas. Ele destacou que o banco pretende crescer na prestação de serviços.

Outra dessas frentes é a gestora de recursos, que será objeto de abertura de capital. De acordo com Guimarães, a Caixa Asset será comandada por Luciane Ribeiro, que já foi do Santander.

Crédito imobiliário

O vice-presidente de Habitação da Caixa, Jair Mahl, afirmou que o banco quer voltar a concorrer com os privados e “ser protagonista” no crédito imobiliário com recursos da poupança. A atividade, segundo ele, foi reduzida nos últimos anos por restrição de capital, agora já superada. “Já voltamos ao mercado”, disse.

Com isso, a ideia da Caixa é melhorar processos para atrair também clientes com renda mais alta.

Ao mesmo tempo, o banco vai continuar atuando no Minha Casa, Minha Vida, parte do que Guimarães chama de função social da instituição. “O MCMV é um programa de Estado, vamos continuar da mesma maneira oferecendo esse serviço à sociedade”, disse. “No SBPE [crédito com recursos da poupança] a gente quer crescer mais”, afirmou.

Imóveis retomados

O vice-presidente de controles internos e gestão de risco da Caixa, Paulo Angelo, explicou que o banco teve uma disparada na quantidade imóveis retomados ao longo de 2018 e, portanto, decidiu fazer uma revisão dos valores desses ativos, o que resultou no impairment de R$ 1,2 bilhão no quarto trimestre.

“No total, foram retomados 30 mil imóveis, dobrando o estoque de bens não de uso (BNDU)”, afirmou o executivo.

Segundo ele, engenheiros do banco fizeram uma reavaliação de 720 imóveis em todo o país, tomados como garantia de empréstimos inadimplidos, para verificar o valor passível de venda, que é diferente da dívida que o tomador de crédito tinha com o banco. Todo o processo foi acompanhado por órgãos reguladores.

“É fundamental que o balanço apresente a realidade de forma fidedigna. Por isso o valor recuperável dos imóveis foi revisto”, afirmou Angelo. Além desse ajuste, o banco ainda fez um impairment de R$ 1,1 bilhão correspondente à emissão de uma debênture.

Laloni afirmou que o banco está revisando todo o estoque de ativos imobiliários, desde a carteira de crédito, os imóveis em uso e os retomados. “Achamos que eles têm uma função melhor do que sentado no balanço. Estamos num esforço para analisar ativo por ativo para dar o melhor destino, e assim liberar capital da Caixa”, afirmou.

Gestora

Em outro tópido, a Caixa informou que a gestora de recursos do banco terá cerca de 80% de seus recursos voltados à renda fixa, em linha com o mercado em geral, afirmou Luciane Ribeiro, vice-presidente de administração e gestão de ativos do banco.

“Com o gigantismo da Caixa, temos a oportunidade de ampliar o negócio de fundos”, disse, citando as agências e as lotéricas como pontos possíveis de distribuição.

De acordo com ela, o banco poderá estruturar fundos imobiliários voltados a clientes de renda mais alta, e também vê oportunidades em fundos de previdência.

Guimarães também apontou como oportunidade a criação de fundos específicos para vender no varejo. “Vamos abrir o capital da Caixa Seguridade. Por que não criar um fundo com ações para vender no varejo?”, indagou.

Segundo Guimarães, a gestora de recursos deve ter o capital aberto no primeiro semestre de 2020, assim como a lotérica. As subsidiárias de cartões e seguros serão levadas à bolsa no segundo semestre deste ano.

“A asset é mais demorada porque precisa de autorização para abrir empresa em si, enquanto nas demais as empresas já estão abertas”, disse o executivo. Guimarães disse que já foram escolhidos os presidentes de cada uma dessas operações, sendo que Marcos Barros fica na Caixa Seguridade e Luciane Ribeiro na gestora.

Fonte: Valor Econômico