Ações das principais empresas de construção do país sobem mais de 25% desde as eleições

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Juros baixos e estimativa de retomada da economia e do emprego impulsionam confiança do mercado

Desde as eleições, as ações das principais empresas do setor de construção já acumulam valorização superior a 25%. Juros em patamares baixos, perspectiva de recuperação da economia e do emprego e a retomada da confiança são os fatores que elevam a aposta de maior demanda por imóveis, o que beneficiará essas companhias. Analistas ainda veem chance de ganho com esses papéis, mas lembram que uma mudança na conjuntura do país, como a demora na aprovação de reformas, pode afetar a trajetória desse setor na Bolsa.

Gustavo Cambaúva, analista do BTG Pactual, lembra que, de forma geral, toda as ações da Bolsa brasileira são beneficiadas por esse cenário otimista. No caso das construtoras, o impulso adicional vem da perspectiva de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 6,5% ao ano, patamar mais baixo da história, barateando o financiamento imobiliário. Isso estimula mais gente a comprar a casa própria.

— As prévias das construtoras já mostram melhora das vendas no quarto trimestre de 2018 e os estoques caindo. Logo elas poderão lançar mais, e os preços dos imóveis podem subir um pouco, o que melhora a margem das construtoras — avalia Cambaúva. — Vemos boa dinâmica setorial, com melhora das rentabilidades. As duas empresas que mais gostamos são a Cyrela e Even, que possuem boa administração e estão pouco endividadas.

As ações da Cyrela, desde o fim do segundo turno das eleições, acumulam uma alta de 32% e as da Even, uma valorização ainda maior, de 42,2%. A Eztec, que acumula um ganho de 25,7%, também é bem avaliada pelo analista, mas ele lembra que ela sofreu menos nos anos anteriores e por isso teve valorização menor que as demais.

Crise afetou demanda

Essa dinâmica era inimaginável há dois anos. O setor sofria com a queda na demanda, fruto da crise econômica, e também com a devolução de apartamentos, os chamados distratos. Isso fez com que as empresas ficassem com dívidas e um estoque de imóveis elevado, desestimulando novos lançamentos.

O setor de construção foi um dos mais afetados pela recessão econômica. O aumento do desemprego minou a confiança do consumidor, que precisou adiar a decisão da compra do imóvel, já que isso em geral requer um financiamento de longo prazo.

— É um setor que tende a evoluir com o desemprego caindo. E os juros se mantendo baixo por mais tempo, ajuda quem quer financiar — explica Thiago Silva, analista da Toro Investimentos.

Ele vê potencial de valorização mesmo em ações de empresas que possuem boa parte do resultado proveniente do “Minha Casa, Minha Vida”, como MRV e Direcional, que acumulam ganhos de, respectivamente, 36,9% e 29,2%.

No entanto, Silva alerta que a lentidão na aprovação de reformas econômicas, em especial a da Previdência, pode conter o otimismo dos consumidores e empresas, afetando assim a demanda no setor e, consequentemente, as ações dessas empresas.

alta construtoras

Na avaliação de Felipe Silveira, analista da corretora Coinvalores, o mercado recebeu bem a volta dos lançamentos das construtoras, mesmo que o estoque ainda esteja elevado em algumas. Além disso, a Lei dos Distratos, que estabelece multas mais altas para devolução de apartamentos na planta, passa a dar maior segurança jurídica para as companhias:

— Já vemos uma recuperação considerável. Essas empresas ainda têm um bom espaço para crescer.

O analista avalia que o papel deve ser escolhido a partir dos objetivos do investidor, já que alguns devem ter valorizações mais limitadas a curto prazo, mas são boas opções para quem quer ficar com a ação por ao menos um ano:

— Para os investidores mais conservadores, o melhor é buscar empresas de baixa alavancagem (pouca dívida) ou até com caixa líquido (dinheiro disponível). Nesse caso, Eztec e Cyrela são boas opções.

Já para quem está disposto a correr risco maior, Silveira vê como boas oportunidades a Even e a Trisul, que acumula ganhos de 48,6% no período. São empresas com maior nível de endividamento, mas que têm maior desconto na Bolsa, ou seja, estão mais “baratas”.

Fonte: O Globo