Tenda planeja ampliar terrenos e vê mudanças no Minha Casa, Minha Vida

Alçada ao posto de terceira maior incorporadora em vendas pouco tempo após completar a cisão com a Gafisa, a Tenda é cautelosa quanto à expansão em projetos, mas quer reforçar a intenção de ser a mais rentável do país.

Com R$ 1,8 bilhão em vendas líquidas e lançamentos no acumulado de 12 meses até setembro, a incorporadora, voltada para o segmento de baixa renda, só fica atrás da MRV e da Cyrela em tamanho atualmente. A empresa se fia no custo baixo de construção e no modelo de vendas para se manter rentável.

“Nossa maior ambição é ser a empresa mais rentável do setor. Toda decisão que tomamos é mais em função de ganhar rentabilidade que ganhar tamanho”, afirmou Renan Sanches, diretor financeiro e de relações com investidores da Tenda durante evento para analistas realizado ontem.

O chamado retorno sobre patrimônio da companhia (ROE, na sigla em inglês) encerrou o acumulado de 12 meses até setembro em 16,2%. O retorno sobre capital empregado (ROCE) ficou em 21,9% no mesmo período e a margem bruta foi de 34,7%. Nos três casos, a companhia lidera os indicadores entre as incorporadoras listadas na B3 há mais de 12 meses.

“Nosso gargalo é de capital, é gerar lucro, para produzir reserva e distribuir dividendo. Com as variáveis de alavancagem respeitadas, queremos distribuir capital quase que no limite”, diz Rodrigo Osmo, diretor-presidente da Tenda.

O modelo de construção da Tenda é padronizado para quase todas as unidades, com prédios de cinco andares, sem elevador, em terrenos de ao menos 10 mil metros quadrados. A exceção é São Paulo, onde surgiram recentemente projetos de imóveis de 10 andares, com elevador, em áreas menores, de 5 mil metros quadrados. “Produzimos sempre a mesma coisa, então ter continuidade produtiva nos beneficia”, afirma Sanches.

O banco de terrenos chegou inclusive a ser uma preocupação para a companhia, que precisou investir para ampliar a folga em relação ao ritmo de novos projetos. “Em 2016, nosso banco de terrenos era insuficiente. A situação foi muito limiar e perigosa”, afirma Sanches. “Temos conseguido compor, hoje a Tenda não tem risco de execução por conta de banco de terrenos.”

Mesmo ampliando a carteira nos últimos anos, a incorporadora ainda vê oportunidades para aquisição de novas áreas para futuros projetos. A meta é ter banco de terrenos para os próximos três anos de projetos. Atualmente, o nível é de 2,5 anos.

Entre as regiões que a companhia atua, as operações de compras de terrenos futuras devem se concentrar em São Paulo, que já é o maior mercado da Tenda, e Curitiba, onde a empresa entrou no ano passado. “São Paulo é a região que vemos maior oportunidade de expansão”, completou Sanches.

Entretanto, a Tenda vê uma série de riscos nos próximos anos, que devem pesar nos custos da companhia. “Imaginamos uma mudança no comportamento dos custos daqui para a frente. Aço e concreto já sentimos pressão de incremento, então devemos ver uma pressão maior a partir de agora”, diz Sanches.

Outro elemento são possíveis mudanças no “Minha Casa, Minha Vida”, base para a retomada da companhia desde 2013. Além de atuar há muito tempo na faixa 2 do programa, para famílias com renda de até quatro salários mínimos, a companhia ganhou um impulso extra com a chamada faixa 1,5, criada em 2016, voltada para famílias com renda entre um e dois salários mínimos.

Segundo Osmo, a faixa 1,5 elevou as vendas em 40% sem afetar as margens da empresa. Outro efeito da faixa foi o aumento da velocidade de vendas sobre a oferta (VSO). Sem essa faixa do programa, o indicador era de 23,1%. Com a faixa 1,5 a velocidade subiu para 30,1%.

A companhia crê, entretanto, que essa faixa está sob pressão, pelo alto consumo de recursos do FGTS, e deve sofrer ajustes nos próximos meses. A expansão para nova região, no caso Goiânia, está em suspenso aguardando o futuro do programa de habitação popular.

Fonte: Valor Econômico