A obra do arquiteto argentino Eduardo Sacriste: entre a educação e a construção de habitações populares

Casa Schujman. Foto: Lucía Mariotto

Casa Schujman. Foto: Lucía Mariotto
Casa Schujman. Foto: Lucía Mariotto

O marco teórico e material na arquitetura de Eduardo Sacriste deixou um legado importante para os estudantes de arquitetura e os profissionais argentinos. Sua obra, que teve lugar entre a prática e o ensino, evidencia um arquiteto enquadrado nas tendências do movimento moderno, mas que valoriza a arquitetura e os costumes de seus habitantes locais.

Pondo um particular foco de atenção na capacidade da arquitetura como um meio de transformação social, sua atenção focou-se na habitação popular e vernacular argentina. Os projetos que desenvolveu são vistos principalmente na província de Tucuman, e são o resultado de um equilíbrio entre o simples, o eficiente e o reflexivo. A partir disso, considerava que a arquitetura deveria responder aos modos de vida das pessoas, e não às características do autor da arquitetura. Uma arquitetura que humilde, trabalhando com o sentido da razão e da economia.

Eduardo Sacriste finalizou seus estudos em 1931, na Escola de Arquitetura de Buenos Aires, em um período onde a difusão da arquitetura moderna influenciava a maior parte dos estudantes. A partir de 1941 viajou com uma bolsa para os Estados Unidos, para realizar estudos de habitações econômicas e pré-fabricadas, onde começa a indagar e refletir acerca da obra do arquiteto Frank Lloyd Wright, que propunha os princípios para uma arquitetura arraigada no território.

Em 1944, o arquiteto se mudou -junto com Horacio Caminos e Hilario Zalba- para a região de San Juan, para colaborar na reconstrução de uma cidade que se encontrava 80% destruída devido ao severo terremoto do mesmo ano. Em uma visita pelas áreas próximas, decidiu assentar-se em Tucumán por sua característica paisagem natural e onde começa sua carreira como docente -e logo como diretor- da Escola de Arquitectura da Universidad de Tucumán. Em sua tarefa docente é onde teve alunos que hoje são reconhecidos arquitetos internacionais, como César Pelli.

Casa Schujman. Foto: Lucía Mariotto
Casa Schujman. Foto: Lucía Mariotto

Ao longo da carreira abordou diferentes programas públicos e privados, ainda que a habitação familiar tenha se convertido em sua principal vocação. Sacriste, a partir de sua formação acadêmica e compreensões, soube buscar os elementos principais da arquitetura moderna e depois comprometer-se com uma arquitetura vinculada ao território e suas condições ambientais. Sua arquitetura é ligada ao vernáculo, que está em contato com os costumes, cultura, clima, terreno e materiais e tecnologias locais. A arquitetura nasce do sítio.

As habitações que lhe foram encomendadas, como a Casa Shujman e a Casa Torres Posse, evidenciam um amplo estudo prévio das necessidades reais das famílias e das características do sítio. Introduz certos elementos da tradição local como resposta às condições ambientais, como o pátio e a galeria, e propõe a utilização de materiais locais como a pedra, para a construção de muros e até coberturas verdes.

Eduardo Sacriste considerava que a capacidade de ensinar estava vinculada à experiência prévia da construção, devia exercer-se a profissão para poder ensinar. Era necessário e importante ter construído, e era importante saber escutar para poder comunicar-se. Acreditava nas capacidades do arquiteto como as de alguém que sabia valorizar as influências que lhes eram contemporâneas em conjunto com as necessidades e apredizagens dos habitantes do lugar, os clientes e os construtores. Sobre isso, sua abordagem às comunidades se encontrava envolta por um respeito pelos costumes locais a partir de seguir desenvolvendo o que eles haviam iniciado.

A herança de Sacriste não se limita à sua obra construída, mas a uma postura acerca do modo de fazer arquitetura.

Fonte: ArchDaily