Os balanços do primeiro trimestre já divulgados pelas incorporadoras demonstram forte discrepância entre o desempenho dos resultados das companhias que atuam na baixa renda e daquelas com atuação nos padrões médio e alto. Enquanto MRV Engenharia e Tenda – que atuam no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida – elevaram seus respectivos lucros, Cyrela, EZTec, Gafisa apresentaram resultados líquidos piores na comparação anual. Even Construtora e Incorporadora, RNI Negócios Imobiliários e Tecnisa continuam a operar no vermelho, embora tenham reduzido seus prejuízos líquidos.
Incorporadoras com foco nas rendas média e alta ainda sentem o impacto de distratos elevados em seus resultados. Rescisões de vendas significam reversão de receita e redução de margem, pois as unidades costumam ser revendidas a preços menores do que os de lançamento. Há expectativa, no mercado, que os distratos diminuam, fortemente, a partir do segundo semestre para empresas como Even e EZTec, com redução do volume de entregas.
No primeiro trimestre, o lucro da MRV cresceu 22,3%, para R$ 160 milhões, enquanto Tenda elevou seu ganho em 91,5%, para R$ 36,3 milhões. As duas incorporadoras lançaram Valor Geral de Vendas (VGV) menor do que no mesmo período do ano passado, devido a atrasos na obtenção de licenças em alguns mercados, mas continuam a se beneficiar do crescimento do volume de vendas dos projetos apresentados em 2017. A receita é contabilizada, no setor, proporcionalmente às vendas e ao avanço das obras.
Além disso, o crédito para a baixa renda não sofreu, nos últimos anos, as mesmas restrições do financiamento para os demais segmentos, o que resultou em menos distratos.
No primeiro trimestre, a RNI reduziu seu prejuízo líquido em 55%, para R$ 11,75 milhões. A margem bruta cresceu de 1,4%, no primeiro trimestre de 2017, para 11,3% de janeiro a março. A companhia tem expectativa de voltar à lucratividade no fim deste ano ou em 2019, segundo o copresidente Alexandre Mangabeira.
Por enquanto, a melhora do desempenho da RNI resultou da diminuição dos descontos de vendas de imóveis e do corte de despesas gerais e administrativas. Daqui para frente, o resultado líquido da RNI tende a reagir, principalmente, devido ao aumento de lançamentos e, consequentemente, da receita, segundo Mangabeira. A RNI está voltando a incorporar parte dos projetos para a baixa renda. O nível de descontos para a venda de estoques foi reduzido.
De acordo com o outro copresidente da RNI, Carlos Bianconi, potenciais clientes têm demonstrado interesse por imóveis, mas parte deles se mostra receosa em tomar a decisão de compra, principalmente de unidades prontas, devido às taxas de financiamento cobradas pelos bancos. Bianconi ressalta que a redução de taxas ocorrida recentemente em algumas instituições financeiras não reflete o patamar de queda da Selic nem o nível atual de inflação do país.
Segundo o presidente da Even, Dany Muszkat, há expectativa que, a partir do fim do ano, a margem bruta da companhia seja menos pressionada pelos distratos e pela reprecificação realizada no estoque durante a crise. A volta à lucratividade dependerá do volume de lançamentos, de acordo com o presidente. A Even reduziu seu prejuízo líquido em 36%, para R$ 25,7 milhões.
Para a Cyrela, a retomada da lucratividade deve ocorrer em algum momento do segundo semestre, de acordo com o diretor de relações com investidores e de operações estruturadas, Paulo Gonçalves. A companhia reverteu o lucro de R$ 4 milhões do primeiro trimestre de 2017 e contabilizou prejuízo de R$ 51 milhões.
Segundo o presidente da Gafisa, Sandro Gamba, à medida que os projetos de 2016 e 2017 – mais rentáveis do que os das safras anteriores – começam a ter mais representatividade na composição da receita, a margem bruta tende a crescer, chegando a 35% futuramente. De janeiro a março deste ano, a Gafisa reverteu a margem bruta negativa de 12,6% do primeiro trimestre de 2017 para 10,7%.