Nos últimos doze meses, o programa do governo federal voltado à habitação foi responsável por 75% dos lançamentos e 68% das vendas de casa própria no País
Demitido no auge da recessão no Brasil – em 2015 – o servente de obras José Severo Filho, 44, dividiu o seu tempo, nos últimos três anos, entre “bicos” e las em busca de uma oportunidade. Acostumado a trabalhar no canteiro de obras de grandes construtoras, Severo só voltou a exercer a profissão no dia 19 de julho de 2018, mas desta vez numa incorporadora de menor porte, que constrói imóveis destinados ao Minha Casa Minha Vida (MCMV). Nos últimos doze meses, o programa do governo federal voltado à habitação foi responsável por 75% dos lançamentos e 68% das vendas de casa própria no País. Tal resultado tem conseguido estimular aos poucos a recontratação de trabalhadores e, ao mesmo tempo, conferido ao MCMV o papel de “motor propulsor” do mercado imobiliário.
“Na época em que fui demitido estava muito difícil. O comentário era só desemprego, porque as grandes construtoras não estavam construindo. Não tinha a quem vender”, relembra Severo. Segundo ele, muitos de seus colegas foram demitidos de construtoras voltadas aos imóveis de médio e alto padrão e, agora, começaram a voltar ao mercado de trabalho na construção de habitações mais populares. “Ainda não está como era antes de 2015, mas parece melhorar”, diz o servente.
Mesmo em meio a uma recuperação ainda lenta do mercado imobiliário, o MCMV, segundo o gerente de projetos da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Renato Lomonaco, consegue se manter atraente por ter uma taxa de juros mais baixa e atender demanda do décit habitacional. “Embora atenda pessoas com menor renda, a necessidade da casa própria aliada às facilidades do programa faz com que essa parte da população seja estimulada a assumir um negócio a longo prazo e movimentar a economia”, explica Lomonaco. De acordo com dados da Abrainc, os lançamentos de imóveis novos alcançaram a marca de 88 mil unidades no Brasil entre junho de 2017 e maio deste ano (aumento de 27,1% em relação aos 12 meses precedentes). Os empreendimentos de médio e alto padrão (MAP) responderam por 24,5% das unidades lançadas e 31,7% das unidades vendidas. O MCMV alcançou 75,5% dos lançamentos e 68,3% das vendas no mesmo período.
Se a continuidade das vendas estimula a manutenção dos lançamentos, esses, por sua vez, são os que permitem às construtoras e incorporadoras retomarem as contratações. A Nacional Empreendimentos, incorporadora especializada no MCMV, prevê três lançamentos para este ano e espera dobrar o número de funcionários. “Até atuávamos no mercado de médio e alto padrão, mas hoje só temos à venda o estoque. Com a crise, a gente viu que todo mundo deixou de adquirir bens a longo prazo, com exceção do Minha Casa Minha Vida. De 2014 a 2017, tivemos crescimento de 2,9% em número de vendas MAP, o MCMV aumentou 37,9%. Tudo isso, nos leva a um cenário de contratação. Tínhamos 120 funcionários em 2017 e esperamos chegar a 400 até dezembro”, conta o porta-voz da Nacional, Otto Schimidt.
Construção Civil
De modo geral, a construção civil ainda não chegou a um bom desempenho na abertura de vagas. De acordo com o Caged, entre janeiro e junho de 2018, dois meses tiveram saldo negativo. Fevereiro teve o maior índice (- 3,1 mil). Já o Mês de abril teve o melhor desempenho, com saldo de 16 mil vagas. Para o vice-presidente da Ademi-PE, Thiago Melo, grande parte dessas contratações estão ligadas ao desempenho do MCMV. “O programa hoje é um motor propulsor da nossa economia, mas poderia ser maior. Temos um aumento de incorporadoras interessadas pelo segmento não só por existir demanda, mas também crédito ao incorporador e taxa de juros razoável. No entanto, as exigências por parte do banco para o cliente ter acesso a crédito ainda são um entrave”, avalia. No mês de maio, dos 5,9 mil imóveis ofertados no Estado, 31% utilizaram como recurso financiamento do Minha Casa Minha Vida. Do total de vendas (430), pelo menos 44% utilizaram financiamento do programa habitacional.