Se as atuais tendências persistirem, em 2025 teremos pelo menos 1,6 bilhão de pessoas morando em locais inadequados
Mesmo nas economias mais avançadas do mundo, as cidades enfrentam o enorme desafio de prover habitação, tanto para os mais pobres quanto para a população de classe média. O acesso a uma habitação decente, e por um preço possível de ser pago sem prejudicar as outras atividades básicas das famílias, é direito fundamental de todos os cidadãos.
Estudo publicado pelo MGI (Mckinsey Global Institute) traça interessante cenário a respeito das dimensões globais desse problema e sua evolução nas próximas décadas.
De acordo com a publicação, estima-se que 330 milhões de famílias no mundo vivem em habitações subnormais ou têm seu orçamento prejudicado por custos de moradia acima do razoável. Desse total, 200 milhões vivem em favelas.
Se as atuais tendências persistirem, em 2025 teremos pelo menos 1,6 bilhão de pessoas morando em locais inadequados, inseguros e com custos acima daquilo que elas poderiam pagar.
O agravamento da questão habitacional fica claro quando examinamos os altos custos para solucionar o problema.
Mesmo em cidades consideradas ricas como Nova York, quase 1,5 milhão de pessoas não consegue arcar com os custos de uma moradia digna e a solução custaria para a cidade US$ 18 bilhões por ano (R$ 73,8 bilhões), o equivalente a 4% do seu PIB (Produto Interno Bruto).
Em termos globais, para readequar as habitações subnormais e construir as unidades necessárias para zerar o déficit até 2025 seriam necessários cerca de US$ 11 trilhões (R$ 45 trilhões) que, somados ao custo dos terrenos, chegariam a US$ 16 trilhões (R$ 65,6 trilhões) ou aproximadamente 25% do PIB mundial.
O MGI identificou quatro maneiras de reduzir entre 20% e 50% os custos da geração de habitações para pessoas de menor renda: viabilizando a utilização de terrenos nos locais mais adequados; reduzindo os custos de produção por meio da engenharia de valor e de novas abordagens nos sistemas de produção; aumentando a eficiência dos sistemas de operação e manutenção dos edifícios; e reduzindo os custos de financiamento para compradores e empreendedores.
Essas medidas, associadas a modelos eficientes de subsídio cruzado, podem provocar redução de custos e tornar possível que pessoas de menor renda acessem a moradia digna.
Sem dúvida, a implementação dessas ideias deve ter abordagens diferentes em cada país ou cidade, em função das peculiaridades locais. Contudo, podem ser consideradas tópicos de fundamental importância no equacionamento da insuficiência de unidades habitacionais.
Porém, nenhuma cidade encontrará a solução para seus problemas habitacionais se a população não estiver engajada e comprometida com isso.
Embora a maioria das pessoas concorde com a necessidade e a importância da produção de habitações de interesse social, muitas vezes se opõe às propostas de viabilização de projetos. Não concorda com a eventual mudança de características de sua vizinhança, com a implantação de unidades para pessoas de menor poder econômico, ou ainda com um maior adensamento na região, o que, em tese, poderia causar algum incômodo com o aumento do trânsito de veículos e de pessoas nas ruas.
É preciso ter consciência que a mescla geográfica de habitantes de diferentes níveis de renda nas cidades precisa ser feita de forma organizada e racional, sob o risco de ocorrer de forma desorganizada e irracional, resultando em consequências desastrosas para a vida urbana, e esse modelo conhecemos bem nas grandes cidades brasileiras.
Fica claro que novas abordagens para antigos problemas são necessárias. As cidades e seus habitantes devem encontrar formas criativas de prover habitação para as pessoas de todos os espectros de renda, mas, sem dúvida, com especial atenção aos mais pobres.
- Claudio Bernardes
Engenheiro civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015.