Metrópoles com bairros mais autossuficientes, menos deslocamentos para chegar ao trabalho ou ir à escola, uma mescla diferente de formas de transporte. Esses são alguns dos itens na pauta de sociólogos e urbanistas
A pandemia da covid-19 paralisou o mundo e continua matando milhares de pessoas, infectadas por um micro-organismo para o qual não se tem remédio nem antídoto. Ameaças de tal natureza, em inúmeros momentos da história, moldaram grandes mudanças na sociedade e também no contorno das cidades. E desta vez não deve ser diferente. É essa reflexão que cientistas sociais e urbanistas estão fazendo agora.
Entre os principais aspectos estão a necessidade de discutir uma revisão do planejamento urbano, com novas formas de trabalho, lazer e circulação. Além de mudanças no modelo de transporte e melhores condições de moradia e mais infraestrutura sanitária.
Surgem ainda a preocupação com as favelas, a comunicação em redes digitais, políticas de proteção da intimidade, justiça social diante das desigualdades econômicas e até os conceitos de tamanho e cidades policêntricas. Tudo está em xeque pela violência da infecção.
Consultor da ONU e do Banco Mundial, o canadense Robert Muggah é um dos que acreditam que a atual pandemia não será exceção e também provocará transformações. “No século 13, a peste bubônica levou a maiores proibições a espaços urbanos apertados e esquálidos. Os surtos de malária e cólera no século 19 acarretaram mudanças nos sistemas de ventilação e esgoto”, conta o especialista, que também é diretor do Instituto Igarapé. “No século 20, pandemias de febre tifoide, poliomielite e gripe nos obrigaram a repensar tudo, desde as regras de zoneamento e manejo de resíduos até o design de espaços públicos.”
Para o empresário e urbanista Philip Yang, fazer um prognóstico dessas mudanças ainda é prematuro. “Estamos entre o ‘tudo mudará’ e o ‘nada mudará’. Epidemias piores do que esta foram esquecidas poucos anos depois do grande trauma”, justifica Yang, também diretor do Instituto Urbem.
O especialista diz que as cidades que já estão saindo do confinamento vêm adotando ferramentas low tech de urbanismo, como a delimitação do espaço público com fita sinalizadora e cones. “Num plano mais macro, imaginaria que a reocupação de ruas e espaços públicos devesse ser realizada em outras proporções”, explica. “No curto prazo, haverá demanda por estacionamento. Mas no longo, com os carros autônomos, os estacionamentos de rua deverão ceder espaço para calçadas mais largas e vias para bicicletas, patinetes e afins.”