Caixa: Próximo governo terá que capitalizar banco para reduzir juros

O vice-presidente de finanças e controladoria da Caixa, Arno Meyer, afirmou nesta quinta-feira (24), em coletiva de imprensa sobre o balanço do banco no primeiro trimestre , que o candidato à Presidência que quiser usar os bancos públicos para reduzir juros terá de capitalizar essas instituições.

“A União deveria usar recursos para outras prioridades. Os bancos públicos deveriam andar com as próprias pernas”, comentou Meyer. No governo Dilma Rousseff (PT), os bancos públicos reduziram os juros cobrados, em uma tentativa de levar as instituições privadas a também cortar suas taxas. No entanto, esse movimento levou a problemas nos balanços dessas instituições.

Mais recentemente, a Caixa tem adotado uma série de medidas para elevar sua eficiência e o governo federal permitiu que o banco retenha parte maior do lucro, ajudando assim a melhorar os níveis de capital e cumprir as regras de Basileia 3, sem precisar de um novo aporte do Tesouro.

O vice-presidente de riscos da Caixa, Paulo Angelo, afirmou que o índice de capital nível 1 deve encerrar 2018 acima de 11% e o índice de Basileia deve ficar acima de 17%. No primeiro trimestre, o capital nível 1 ficou em 12,0% e o Basileia, em 18,3%. “O nível de capital permite um crescimento de até 4% do crédito”, comentou o presidente da Caixa, Nelson Antônio de Souza.

Meyer afirmou ainda que uma captação de recursos com emissão externa de bonds está no radar da Caixa, mas que isso não será feito enquanto o banco tiver ressalva no balanço. A auditora PwC tem feito ressalvas em função das investigações de corrupção envolvendo certos administradores e ex-administradores do banco, que ainda estão em andamento. Meyer espera que a ressalva saia do balanço ainda no primeiro semestre deste ano.

Imóveis

A “missão” da Caixa Econômica Federal de ser o principal banco para o financiamento da habitação continua, afirmou Arno Meyer. Os principais bancos do país vêm acirrando a disputa em torno do financiamento imobiliário, com seguidas reduções de juros. Estão na briga com a Caixa o Itaú, Santander, Bradesco e Banco do Brasil.

Apesar das restrições de capital, a Caixa apresentou um crescimento de 4,9% da carteira de crédito para a habitação em 12 meses, segundo o executivo. O ajuste para adequar o banco veio na carteira comercial e pessoa jurídica, de acordo com Meyer. “Preservamos a carteira de habitação e de infraestrutura”, disse.

A redução na carteira comercial fez com que a Caixa reduzisse as receitas com crédito. “A carteira comercial é a mais rentável”, afirmou Meyer. O banco procurou compensar essa perda em outras linhas, como a prestação de serviços.

Poupança

Apesar de ampliar o financiamento imobiliário, a Caixa decidiu reduzir a participação das operações com funding da caderneta de poupança, segundo Nelson Antônio de Souza.

A decisão de reduzir as operações com recursos da poupança tem relação com a escassez dos recursos, com os resgates na caderneta nos anos de 2015 e 2016, disse.

Questionado sobre o aumento da participação dos concorrentes privados no crédito com funding da poupança, Souza disse que o movimento é bemvindo. “É importante a participação de bancos privados no crédito imobiliário”, afirmou, ao destacar que a participação dos financiamentos para a compra da casa própria em relação ao PIB ainda é baixa.

O presidente da Caixa disse que o banco deve promover a redução das taxas de juros nas linhas de crédito, de maneira prudente. “Não reduzimos juros por reduzir”, afirmou. Ele disse que o objetivo não é ser o banco com menor taxa, mas com taxas competitivas.

Receita

Segundo Nelson Antônio de Souza, o resultado do banco no primeiro trimestre é consequência do trabalho de redução de despesas e melhoria da receita de intermediação financeira.

“Foi um trabalho forte que nós já desenvolvemos desde 2017 para tornar a Caixa cada vez mais sustentável do ponto de vista financeiro, mas sem perder a preocupação com o balanço social”, disse o presidente da Caixa. O banco registrou lucro líquido de R$ 3,191 bilhões no primeiro trimestre, alta de 114,5% em relação aos três primeiros meses do ano passado.

Souza destacou a melhora do índice de eficiência da Caixa, que atingiu 48,4% no primeiro trimestre, apesar da sazonalidade do período.

O executivo também destacou a adequação dos índices de capital do banco. “Nosso índice de Basileia estará amplamente consolidado em janeiro de 2019”, afirmou.

O índice de capital nível 1 (de melhor qualidade) está 3,6 pontos percentuais acima do mínimo exigido, o que permite algum aumento da carteira, de maneira prudente, segundo o presidente da Caixa.

Fonte: Valor Econômico